
Anna Ta Ok; Antonio Tebyriçá; Charles cunha; creamy marina; felipe barsuglia; flavushh; Gabriel pessoto; gabriel secchin; guilherme blanco; ivo puiupo; livia liu; luah; maria livman; pauli carvalho; piopiolho e ricardo alves.



































EXPOSICOES
o que ja passou por aqui
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Comemorando o aniversário de um ano do CAROÇO, projeto independente de fomento e disseminação de arte contemporânea, a exposição bufê dinamite reúne 16 jovens artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro para saborear o retrogosto agridoce da nostalgia em torno da celebração da infância – aniversários, superficialmente momentos de alegria e comemoração, são com frequência memórias simbólicas de dolorosas pressões exigindo a conformação da potência infinita do jovem devir aos moldes imaginados pelas instituições sociais. A família, a escola e o trabalho, fontes tradicionais de violentas dominações físicas e epistemológicas de gênero, classe e geração, passaram, a partir do século anterior, a ter de competir com uma terceiro elemento produtor de identidades: o consumo de massas. A crescente ubiquidade de produtos industrializados, acompanhada das diversas mídias criadas para garantir que lembremos de suas marcas registradas – do rádio à internet ao TikTok, das séries animadas e seus personagens aos mascotes de corporações globais – garantiu o ofuscamento contínuo do papel exercido por narrativas familiares ou morais religiosas na formação da personalidade individual. Parábolas e lembranças de antepassados passaram a dividir espaço, em nossas auto-narrativas, com roteiros de animação criados para vender bonecos de plástico injetado sob medidas especificadas em contratos de cessão de direitos autorais.
Se esse movimento é visto às vezes como libertação – sou mais eu na medida em que opto por qual universo cinemático da Disney devo acompanhar – parece evidente que o consumo acrítico de afetos orquestrados por publicitários pode ser tão vazio ou danoso quanto no caso de instituições passadas. Longe de converter-se em digestores passivos de lições de vida escritas para maximizar o valor do horário reservado à propaganda de brinquedos, ou, pelo contrário, de adotar um distanciamento antagonista e blasé ao lido como “popular” (categoria já há décadas esvaziada de significado), os artistas de bufê dinamite nos trazem em vez disso uma reapropriação subversiva e neo-sincera de folclores corporativos que, se permanecem vivos como memórias afetivas, são revalidados somente após complexa e transformativa deglutição, que passa (e supera) o cinismo simplista da ironia e a dissociação paralisante da pós-ironia com relação ao objeto de consumo-identificação: formaliza-se assim o sabor caseiro industrial de McLanches Felizes™ enquanto estética, mas corrompido para servir a narrativas outras que as imaginadas por seus roteiristas de marketing. Tal como nossos ancestrais, costuramos e vestimos as peles de nossas caças, agora coletadas das gôndolas de supermercados. Substituímos as imagens sancionadas de nossos ídolos por versões piratas, releituras próprias que enfim servem à representação de nossa imagem. Com suas pinturas, esculturas, instalações e performances, os artistas de bufê dinamite emprestam definição ao difuso inconsciente coletivo de uma geração marcada pelo colapso de barreiras geográficas e semióticas que tornou a condição pós-moderna e a dissolução da tradição em dados básicos da existência.
alice granada
Celebrating the One-Year Anniversary of CAROÇO, an Independent Project for Promoting and Disseminating Contemporary Art, the Exhibition Buffet Dynamite Brings Together 16 Young Artists from São Paulo and Rio de Janeiro to Savor the Bittersweet Aftertaste of Nostalgia Surrounding the Celebration of Childhood
Birthdays, superficially moments of joy and celebration, are often symbolic memories of painful pressures demanding the shaping of the infinite potential of youth into the molds imagined by social institutions. Family, school, and work—traditional sources of violent physical and epistemological domination in terms of gender, class, and generation—have, since the last century, had to compete with a third element shaping identities: mass consumption. The growing ubiquity of industrialized products, accompanied by the various media created to ensure we remember their trademarked brands—from radio to the internet to TikTok, from animated series and their characters to the mascots of global corporations—has continually overshadowed the role played by family or religious moral narratives in the formation of individual personalities. Parables and memories of ancestors now share space in our self-narratives with animation scripts created to sell plastic action figures molded to specifications in copyright contracts.
If this movement is sometimes seen as liberation – I am more myself to the extent that I choose which cinematic universe of Disney I wish to follow – it seems evident that the uncritical consumption of feelings orchestrated by advertisers can be just as empty or harmful as the case with past institutions. Far from turning into passive digesters of life lessons written to maximize the value of the time reserved for toy commercials, or, conversely, adopting an antagonistic and blasé detachment from what is considered "popular" (a category that has long been emptied of meaning), the artists of buffet dynamite bring us instead a subversive and neo-sincere reappropriation of corporate folklore that, while remaining alive as affective memories, is only revalidated after a complex and transformative digestion. This process transcends (and surpasses) the simplistic cynicism of irony and the paralyzing dissociation of post-irony in relation to the object of consumption-identification: thus, the industrial homemade taste of McHappy Meals™ is formalized as aesthetics, but corrupted to serve narratives other than those imagined by their marketing scriptwriters. Just like our ancestors, we sew and wear the skins of our hunts, now collected from supermarket shelves. We replace the sanctioned images of our idols with pirated versions, our own reinterpretations that finally serve to represent our own image. With their paintings, sculptures, installations, and performances, the artists of buffet dynamite give definition to the diffuse collective unconscious of a generation marked by the collapse of geographical and semiotic barriers, which made the postmodern condition and the dissolution of tradition basic facts of existence.
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alice granada

hoje 40 graus no trópico: gotinhas ácidas escorrem por seu rosto de borracha.
é noite de festa. a criança chora tentando consertar as imagens.
exibe uma nova forma tão peculiar –
há uma mãe e há um jogo, uma grande estrada. os armários da escola,
os pés e a cena. os dedos queimados.
as rodas de skate e a pista de dança.
entre as pernas e penhascos, a fronteira entre o deserto e a cidade.
corre na plataforma em figurino de retalhos,
que revela as cicatrizes plásticas em seus joelhos rasgados que sangram óleo.
cobre a carne com chiclete (farsa frágil), engole pílulas que projetam sonhos virtuais
com monstros de pelúcia, fantasias fúteis com rendas, laços, borracha e strass.
apaga, derrete a imagem. açúcar e formigas,
um cigarro que dura pra sempre.
uma patisseria e um deus já morto, um gênio já morto.
as crianças da cidade derretem em trens.
em meio à ruptura do campo estético modernista, das novas políticas da interpretação e da
esquizofrenia pós-industrial, o que resta (ou se herda) é a quebra estrutural da obra de arte
e a força da experimentação no campo expandido onde as fronteiras disciplinares já estão
tão apagadas quanto o espaço/tempo e os mitos modernos de progresso e mestria.
agarrar-se à materialidade parece uma recusa a perder completamente o objeto, e, aqui, as
escolhas formais são veículo para o escape de fantasias – triviais, lúdicas, infantis,
midiáticas, paranoicas, inocentes, violentas, obsessivas, horrorosas, ordinárias, cínicas,
irônicas, afetuosas, trágicas, frívolas, ou… – uma excêntrica deidade infantil reorganizando
a realidade como uma criança num chão de carpete*
pauli carvalho
today, 40 degrees in the tropics: acidic droplets drip down your rubber face.
it’s party night. the child cries, trying to fix the images.
they display a new form so peculiar –
there is a mother and there is a game, a great highway. the school lockers,
the feet and the scene. the burnt fingers.
the skateboard wheels and the dance floor.
between thighs and cliffs, the border between desert and city.
runs across the platform in a patchwork costume,
revealing plastic scars on torn knees that bleed oil.
covers flesh with chewing gum (a fragile farce), swallows pills that project virtual dreams
with plush monsters, futile fantasies with lace, bows, rubber, and rhinestones.
erases, melts the image. sugar and ants,
a cigarette that lasts forever.
a patisserie and a dead god, a dead genius.
the city’s children melt on trains.
amid the rupture of the modernist aesthetic field, the new politics of interpretation, and
post-industrial schizophrenia, what remains (or is inherited) is the structural break of the artwork
and the force of experimentation in the expanded field where disciplinary boundaries are
as blurred as space/time and the modern myths of progress and mastery.
to cling to materiality seems like a refusal to completely lose the object, and, here,
formal choices become vehicles for the escape into fantasies – trivial, playful, childlike,
mediatic, paranoid, innocent, violent, obsessive, horrific, ordinary, cynical,
ironic, affectionate, tragic, frivolous, or… – an eccentric infant deity reorganizing
reality like a child on a carpeted floor