

Aun Helden
EYIBRA
Lau Mota
Raphael Tepedino











EXPOSICOES
o que ja passou por aqui
Músculo
Proponho uma atenção ao músculo que se contrai, ao músculo doente, ao músculo que performa o sonho de ver o corpo se deslocar. A performance, para além da experiência hiperconsciente da própria arquitetura corporal, também é a vontade de desmantelar o entorno e provocar uma fricção na realidade, como um tronco de árvore que se rebela contra o concreto de uma calçada, destruindo seu próprio funeral.
Como posso explicar que a distrofia da verdade é fundamental para que a paisagem se renda à ficção? Na maioria das vezes, há quase nenhuma palavra sendo dita; é como se o ato desejasse que você visse com outra atenção a imagem pegar fogo e a iconoclastia não apenas como um ato rebelde da falência do signo, mas como um meio de construir um novo mundo sem o dogma da salvação.
Muitas vezes, o desejo é frustrado, mas o esforço humano da tentativa torna a insurgência menos passiva. As novas espécies são criadas na tentativa de redigir o verbo que se escreve cíclico e vibrativo, como uma ode à impermanência e à decomposição.
Há uma obsessão pela turbulência de adentrar a liberdade onde a taxinomia violenta não existe e conseguimos abandonar o significado tradicional da ficção que é o tempo. A presença radical talvez seja fruto da dramaturgia da extinção, do gesto do rumor de que tudo vai acabar em breve, e a eterna sagração da primavera é dançada por ventres quentes e atonais que se reconhecem nos torsos esculpidos por uma nova geração.
A decisão de performar é um ato consciente, mas fantasioso. E não se engane: se pensa que a fantasia é aliada da mentira, mas um relicário para perfurar a realidade inexorável onde se rege o imaginário social. E nela dançamos atravessados pelo exercício da forma, observando a osmose e a aporia da mancha na parede, contradizendo as linguagens semelhantes às forças fictícias e inerciais da Física que centrifugam como um fenômeno abocanhando a história e o chão, sem obediência alguma à ideia frágil do que significa ser um corpo na miséria do teatro humano.
Aun Helden
Muscle
I propose an attention to the muscle that contracts, to the ailing muscle, to the muscle that performs the dream of seeing the body displace itself. Performance, beyond the hyper-conscious experience of one's own bodily architecture, is also the desire to dismantle the surroundings and provoke a friction in reality, like a tree trunk rebelling against the concrete of a sidewalk, breaking through its own funeral.
How can I explain that the dystrophy of truth is fundamental for the landscape to surrender to fiction? Most of the time, there are almost no words spoken; it’s as if the act wished you’d look differently, to watch the image catch fire—and iconoclasm not merely as a rebellious gesture of the sign's collapse, but as a way to construct a new world without the dogma of salvation.
Often, desire is frustrated, but the human effort of the attempt renders the insurgency less passive. New species are born from the attempt to rewrite the verb that is cyclical and vibratory, like an ode to impermanence and decay.
There is an obsession with the turbulence of entering a freedom where violent taxonomy no longer exists and we are able to abandon the traditional meaning of fiction, which is time. Radical presence may be the fruit of the dramaturgy of extinction, of the whispered rumor that everything will soon end, and the eternal rite of spring is danced by warm and atonal wombs that recognize themselves in torsos sculpted by a new generation.
The decision to perform is a conscious, yet fantastical, act. And don’t be mistaken: fantasy may seem allied with falsehood, but it is a reliquary for piercing the inexorable reality where the social imaginary rules. And within it, we dance—crossed by the exercise of form—observing the osmosis and aporia of the stain on the wall, contradicting languages similar to the fictitious and inertial forces of Physics that spin like a phenomenon devouring history and ground, with no obedience to the fragile idea of what it means to be a body in the misery of human theater.
Aun Helden


E para nós, resta pêlo e ossos
Dentro de nós, sucata.
Pensemos performances como ações de um corpo. E o corpo deve estar ali. O que o corpo também deve é uma infinidade de coisas. Associamos movimento e estática à performance dentro da arte contemporânea, e o corpo deseja apresentar algo, representar algo, mostrar, apontar e contar. O que o corpo deseja também é uma infinidade de coisas.
Nosso corpo, que é uma máquina insistente, consegue nos mostrar muito com seus mecanismos programados e funcionamento obsessivo, que se desdobram e desdobram até se dissolver em um lugar que leio como imaterial, o lugar da não visão.
Os pensamentos que cabem nesse campo são quase metafísicos: O sentimento mora - fisiológico - dentro de nós? Onde se aloja o desejo? O cansaço? São sistêmicos ou estão acumulados em alguma junta? O espírito do corpo está dentro, agarrado aos órgãos, à direita do ventrículo esquerdo, ou se pendura invisível nas asas de nossos ombros?
Como gestora e fundadora do Projeto Caroço, há três anos tento me associar com artistas e curadores que traduzam essa fome de um estômago sem fundo que sinto ao comer do prato (as sobras) da arte contemporânea brasileira. Escrevo sempre que posso, mesmo que nunca deva, e organizo minhas observações sobre o que nos propomos como programa de um projeto que dá passos lentos e curiosos dentro de um mercado que já sabe bem o que quer.
A exposição que ocupa o espaço em Março, AAATRIOOO, intenciona já em seu título a primeira repetição visual - a da vogal - insistente e contagiosa como um bocejo, para nos convidar a comparecer à uma noite onde acontecem quatro performances duracionais dentro do espaço da galeria - cada uma com o tempo de quatro horas - simultaneamente acontecendo, duas em cada andar. A proposta, vinda de uma conversa entre a artista Aún Helden e eu, têm a intenção de criar um espaço passivo ao acontecimento performático, que chega aos olhos dos espectadores como sangue no átrio do miocárdio, e distribui aos sentidos humanos experiências que vão desde a interação física, como na performance de EYIBRA, que pede - ME TOQUE COMO SE MEU CORPO FOSSE SUA PROPRIEDADE - performando em contexto de seu corpo mexicano existindo e resistindo fronteiras que não o querem vivo; passa pela máquina-corpo de Raphael Tepedino, que escolheu uma instalação mecânica pra representar o ser que deve entregar esforço e trabalho (com desempenho);
Subindo para o segundo andar, o artista Lau Mota, com sua instalação performática, nos convida a entrar em uma casa de marionetes - a despersonalização do corpo mascarado, a pessoa ocupando o lugar do objeto, e um cenário carregado com a ideia tríplice agindo em uníssono, sugerindo ainda uma imagem estranha e curiosa, e finalmente, chegando à apresentação de Aun Helden, que alterna entre morrer e viver sofrendo o derretimento do corpo-gelo que pende sobre ela.
Lau Mota, em sua pesquisa, frequentemente provoca a desintegração da identidade individual, seja pela incorporação de máscaras, seja pela criação de réplicas de si, que se relacionam entre si mas não diretamente. O artista cria uma atmosfera onde a confusão dos elementos que compõem a instalação propõe uma cena estranha aos olhos dos espectadores. Isso dialoga diretamente com o conceito de despersonalização como resistência ativa do corpo frente às imposições do sistema. As marionetes e as máscaras criam uma espécie de "vazio" no corpo, um corpo que já não se reconhece mais em si mesmo. Em “specculum/puella", os corpos parecem não se reconhecer e nem possuir uma individuação, avaliam a si mesmos e o público com uma inocência calma e ponderada, e em alguns momentos interagem com seu reflexo no espelho ou parecem se surpreender com a textura de sua pele de tecido.
Em um tempo que marca a entrega constante e a produtividade, os corpos de Mota negam a individualidade, transformando-se em múltiplos do eu, objetos que questionam a própria ideia de corpo como ferramenta de eficiência, mas que se lançam ao jugo dos olhos que vigiam e punem. A máscara é, portanto, um símbolo dessa alienação, mas também da possibilidade de resistência ao domínio do "eu" – uma recusa em ser consumido pelas normas de um sistema que define quem você deve ser e como deve agir, e ao mesmo tempo, passivo ao controle da observação e despersonalização realizada pela sociedade atual, objetificando o ser-passivo.
Entendendo “Skin Value”, do artista EYIBRA, com seu grito "ME TOQUE COMO SE MEU CORPO FOSSE SUA PROPRIEDADE", a performance pode ser vista como um ato de resistência explícita à objetificação do corpo. O que o artista faz, ao pregar essa frase na parede ao lado do seu corpo, é justamente desafiar a autonomia desse corpo e a forma como ele é consumido pelo olhar externo, seja pelo sistema patriarcal americano sobre os países latinos,seja por suas fronteiras políticas e sociais. Ele traz para a performance a luta contra a desumanização do corpo, algo que também ressoa nas reflexões que atravessam o trabalho de Lau Mota e nos conectam à pressão de desempenho que os corpos sofrem na sociedade contemporânea.
Já o trabalho de Helden neste ato - Requiem n 4 - continua um movimento auspicioso de pesquisa por ícones que traduzam essa curiosidade de seu “ser-agente” performático. E é justamente nesse lugar de resistência que o seu corpo, concentrado em sobreviver ao contato com baixas temperaturas, se desenha como um corpo em sofrimento, como se sua matéria orgânica se recusasse a ser contida pela rigidez de um modelo imposto. É um corpo que, no ato de se entregar ao desconforto, coloca em cena a exigência social da contemporaneidade: ser eficiente, ser produtivo, ser inquebrantável, até que o corpo não consiga mais se dobrar, até que ele superaqueça. Ainda, é um corpo que se resfria e esquenta, treme ao toque, mofa e está vivo.
A falha que evidenciamos na performance, que não é apenas um erro ou uma ruptura, é um estado irrefutável de resistência, o corpo se desfazendo e se decompondo, em uma epopeia que recusa o domínio implacável do tempo e do ato de performar. Aqui, nos remetemos à crítica escancarada que também emerge na instalação de Tepedino, onde a máquina – o ar condicionado que zela pela continuidade do ambiente controlado – se torna uma metáfora para o esforço físico incessante, a obsessão pelo ato, da participação e da rotina cotidiana. Como o corpo de Helden, o corpo na obra de Tepedino é submetido à pressão de uma força externa, repetindo-se, funcionando sem descanso, imerso no calor da exigência de produtividade até não ser mais capaz de sustentar-se. A máquina, que serve como uma extensão do corpo, ou como substituta do trabalho, insiste em operar sem pausa, e a cada ciclo, o corpo que nela se insere parece ceder, se esgotar, tornar-se um reflexo das exigências dessa máquina capitalista que jamais desacelera.
O corpo nessas performances, portanto, é mais do que apenas um locus físico; é um campo de batalha onde a vigilância, seja interna ou externa, marca cada movimento, cada respiração, cada gesto. Ele é disciplinado, ajustado às normas de um sistema que não oferece espaço para o erro, e nesse jogo de repetições incessantes, ele é moldado até se tornar uma extensão da própria lógica de produtividade e eficiência. Como a sociedade neoliberal exige, o corpo precisa estar sempre em movimento, funcionando, mesmo quando o peso de sua exigência o leva ao estado de “burnout”.
No entanto, a falha que surge desses corpos não é um simples colapso, mas o último ato exausto de resistência. Uma resistência silenciosa, mas poderosa, à tentativa de subjetivação que busca impor as normas e as expectativas sociais e políticas, convertendo o corpo em um objeto controlado e previsível. E assim, a falha — o erro que o corpo não pode mais evitar — se torna um rompimento necessário, uma quebra da disciplina, uma recusa à performance que nos é imposta. O corpo, fadigado e transformado, em sua falha, resiste, e ao resistir, questiona as próprias estruturas que tentam aprisioná-lo.
A performance cria o espaço que recebe a performance. Átrio, o grande saguão de encontro, reúne quatro performers com pesquisas distintas, mas que se misturam na cavidade dos assuntos que abarcam a vida e a morte e as pulsões, e que os leva a convergir-se num ponto único e multifacetado como um diamante.
É contemporâneo quando precisamos dividir nossa atenção entre nossos interesses e em um mundo com excesso de informação, estando nós ainda mergulhados (afogados) em um sistema de serviência e cobrança constantes, que esquenta e resfria nosso corpo de maneira não saudável. Por isso, a proposta era resistir perante um público que precisasse perder algo para ver tudo. Quatro horas, quatro apresentações que traduzem as angústias de uma geração para um público que não escapa à experiência na íntegra de nossas próprias realidades. No fim, e também no começo, tudo é embrionário.
E para nós, resta pêlo e ossos.
HELDEN, em seu quarto ato da série nomeada Réquiem, está deitada em uma base branca do tamanho de seu corpo, este vestido com uma roupa-pele de látex branco que cobre o corpo todo, com luvas e meias de látex com espinhos de metal, de material translúcido e aspecto leitoso, enquanto um som de sinos marca badaladas regulares e ressoam pelo ambiente através de caixas de som. Em sua cabeça está posicionada uma coroa em formato de capacete feita de espinhos naturais (planta conhecida como espinheira santa) em cima do rosto, enquanto um gelo de doze quilos, içado por cabos de aço e apoiado por uma grelha metálica, derrete lentamente sob seu corpo, que resiste ao frio congelante pelas próximas quatro horas.
MOTA, performando “specculum/puella", existe em três corpos: bonecas mascaradas encenam movimentos lentos ao som de música clássica tocada por pianos, saindo de caixas de som. Duas estão no chão, sentadas, e uma senta sobre uma cadeira do tipo divã ao centro, hora escrevendo em uma máquina de escrever, hora posando de costas. Os gestos de todas são delicados e calmos seguindo a música. Vestem colãs brancas que cobram corpo todo, incluindo mãos e pés. Usam máscaras inspiradas em personagens de anime japonês, perucas loiras e longas, roupas de renda delicadas e curtas sobre o suit. Estão posicionadas sobre tecidos, onde estão elementos como velas falsas e partituras. Se movem fora de sincronia, de maneira complementar, durante o período de quatro horas.
TEPEDINO, performa “zéfiro", mas não em pessoa. A escolha do artista é representar o corpo que performa com uma instalação de ares condicionados, cinco no total, empilhados em cima uns dos outros, separados por travesseiros sujos. Esses ares estão ligados e funcionando dentro de uma caixa de vidro com saída pequena para o ar na parte da frente. Os ares respiram e transpiram, aquecem e resfriam dentro desse vidro numa performance que dura quatro horas.
Marina Leite
superaquecido. superexplorado. cansado. fatigado. à mercê da falha
coração - oxigenação - átrio - sístole - diástole - antígona - performance - ato
abandono da casca - saida - agua em movimento - água como agente performático
desfiguração, não-movimento, tentativa, repetição até a falha, não possibilidade da falha, superaquecimento, exaustão, trabalho, dano, liquidez, entrega, purgação, desafio, farpa,
locus, átrio, hall, receptáculo, cerâmica, corpo, jarro.
And for us, only fur and bones remain
Inside us, scrap metal.
Let us think of performances as actions of a body. And the body must be there. What the body must also be is a multitude of things. We associate movement and stillness with performance within contemporary art, and the body wants to present something, represent something, show, point, and tell. What the body wants is also a multitude of things.
Our body, this insistent machine, shows us so much through its programmed mechanisms and obsessive functioning, unfolding and unfolding until it dissolves into a place I read as immaterial — the place of non-vision.
The thoughts that inhabit this space are almost metaphysical: Does feeling reside — physiologically — within us? Where does desire lodge itself? Exhaustion? Are they systemic or collected in a joint somewhere? Is the spirit of the body within, clinging to the organs, to the right of the left ventricle, or does it hang invisibly from the wings of our shoulders?
As manager and founder of Projeto Caroço, I’ve spent the last three years trying to align with artists and curators who can translate this hunger — the bottomless-stomach kind — I feel when feeding on the scraps of Brazilian contemporary art. I write whenever I can, even if I shouldn’t, organizing my observations around what we propose as a program for a project that takes slow, curious steps within a market that already knows exactly what it wants.
The exhibition that occupies the space in March, AAATRIOOO, intends — right from its title — its first visual repetition: the vowel, insistent and contagious like a yawn, invites us to attend a night of four durational performances within the gallery space — each lasting four hours — happening simultaneously, two on each floor. The proposal, born from a conversation between the artist Aún Helden and myself, aims to create a passive space for performative happenings, one that reaches the viewers like blood to the atrium of the myocardium, delivering to the senses experiences ranging from physical interaction — as in EYIBRA’s performance, which demands: TOUCH ME AS IF MY BODY WERE YOUR PROPERTY, performed in the context of his Mexican body existing and resisting borders that don’t want it alive — to the body-machine of Raphael Tepedino, who chose a mechanical installation to represent the being that must deliver effort and labor (with performance).
Upstairs, artist Lau Mota, in a performative installation, invites us into a puppet house — the depersonalization of the masked body, the person occupying the space of the object, in a setting saturated with a triple-idea acting in unison, evoking a strange, curious image. Finally, we arrive at Aún Helden’s presentation, who alternates between dying and living under the melting of an ice-body suspended above her.
Lau Mota’s work frequently provokes the disintegration of individual identity, whether through masks or replicas of himself that relate to one another but not directly. The artist builds an atmosphere where the confusion of elements proposes a scene that is strange to the eye. This directly connects to the concept of depersonalization as an active form of bodily resistance against systemic imposition. The marionettes and masks create a kind of “void” in the body — a body that no longer recognizes itself. In specculum/puella, the bodies seem unrecognizable, lacking individuation, observing themselves and the audience with calm, measured innocence, sometimes interacting with their reflection in the mirror or appearing surprised by the texture of their fabric skin.
In a time defined by constant output and productivity, Mota’s bodies reject individuality, transforming into multiples of the self — objects that question the very idea of the body as an efficient tool. Yet they subject themselves to the gaze that surveils and punishes. The mask is thus both a symbol of alienation and a possibility of resistance against the dominance of the "self" — a refusal to be consumed by the norms of a system that defines who you must be and how you must behave, while remaining passive to the control and objectification enacted by today’s society.
In EYIBRA’s Skin Value, with the statement TOUCH ME AS IF MY BODY WERE YOUR PROPERTY, the performance is an explicit act of resistance against bodily objectification. By mounting this phrase on the wall beside his body, the artist challenges the autonomy of that body and how it is consumed by the external gaze — whether by the American patriarchal system over Latin countries or through political and social borders. He brings into performance the struggle against the dehumanization of the body — something that also echoes in Mota’s work and connects to the pressure contemporary bodies face under performance demands.
Helden’s work in this act — Requiem No. 4 — continues an auspicious investigation into icons that reflect her curiosity as a performative “agent-being.” And it is precisely in this place of resistance that her body, focused on surviving contact with freezing temperatures, presents itself as a body in suffering — as if its organic matter refuses to be contained by an imposed model. It’s a body that, in surrendering to discomfort, puts into play the social demands of contemporary life: to be efficient, productive, unbreakable — until the body can no longer bend, until it overheats. It is also a body that cools and warms, trembles at touch, molds, and remains alive.
The failure we highlight in performance — not just an error or rupture — is an undeniable state of resistance. The body disintegrates and decomposes in an epic that refuses the merciless command of time and the act of performing. This connects to Tepedino’s installation, where the machine — the air conditioners that preserve a controlled environment — becomes a metaphor for relentless physical effort, obsession with the act, participation, and routine. Like Helden’s body, Tepedino’s is subjected to external pressure, repeating, operating without rest, immersed in the heat of productivity demands until it can no longer sustain itself. The machine, either an extension of or substitute for the body, insists on functioning without pause — and with each cycle, the body within it gives out, wears down, becoming a reflection of the capitalist mechanism that never stops.
In these performances, the body is more than a physical locus; it is a battlefield where surveillance — internal or external — marks every movement, breath, gesture. Disciplined, adjusted to the norms of a system that leaves no room for failure, it is molded into an extension of the very logic of productivity. As neoliberal society demands, the body must always function, even when its weight leads to burnout.
Yet the failure that arises is not just collapse, but the final exhausted act of resistance. A silent, powerful resistance against a subjectivity imposed by social and political expectations — converting the body into a controlled and predictable object. And thus, failure — the error the body can no longer avoid — becomes a necessary rupture, a break in discipline, a refusal of imposed performance. The tired, transformed body, in its failure, resists — and in resisting, questions the very structures that try to confine it.
Performance creates the space that receives the performance. Atrium, the great hall of encounter, gathers four performers with distinct research paths, but who blend in the cavity of themes encompassing life, death, and impulse — converging into a single, multifaceted point like a diamond.
It is contemporary because we must divide our attention between our interests in a world overwhelmed by information — while still drowning in a system of servitude and constant demand, which heats and cools our bodies in unhealthy cycles. For this reason, the proposal was to resist before an audience that would have to lose something to see everything. Four hours, four presentations that translate a generation’s anguish to a public that cannot escape the full experience of our shared realities. In the end — and also the beginning — everything is embryonic.
And for us, only fur and bones remain.
HELDEN, in the fourth act of the series titled Requiem, lies on a white base the size of her body, dressed in a full-body latex skin suit, with gloves and latex socks adorned with translucent, milky-colored metal thorns. A sound of bells rings at regular intervals, echoing throughout the space. On her head is a helmet-like crown made from natural thorns (from the “espinheira santa” plant), positioned over her face, while a twelve-kilogram block of ice, suspended by steel cables and held by a metal grate, slowly melts above her body, which resists the freezing cold for four hours.
MOTA, performing specculum/puella, appears in three bodies: masked dolls enact slow movements to classical piano music played from speakers. Two sit on the floor, while one sits on a divan-like chair, at times typing on a typewriter, at others posing with her back turned. Their gestures are delicate and calm, following the music. They wear white unitards covering the whole body, including hands and feet, along with anime-inspired masks, long blonde wigs, and short lace garments. Arranged on fabrics around them are elements like fake candles and sheet music. They move asynchronously, complementarily, over four hours.
TEPEDINO, performs Zéfiro not in person but through an installation of five stacked air conditioning units, separated by dirty pillows, all functioning within a glass case with a small air outlet. These air conditioners breathe and sweat, heating and cooling inside the sealed case for the duration of four hours.
Marina Leite
overheated. overexploited. tired. fatigued. at the mercy of failure
heart – oxygenation – atrium – systole – diastole – antigone – performance – act
shedding the shell – exit – water in motion – water as performative agent
disfigurement, non-movement, attempt, repetition until failure, impossibility of failure, overheating, exhaustion, labor, damage, liquidity, surrender, purging, challenge, splinter
locus, atrium, hall, receptacle, ceramic, body, jar