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EXPOSICOES

 o que ja passou por aqui

Gustavo Silvamaral: Bedtime Story

A cama como um espaço outro, uma utopia localizada, implica noções de identidade, do saber e do congelamento do tempo, as histórias que são vivenciadas entre lençóis perpetuam condições não hegemônicas de existência. “Bedtime Story” é a primeira individual do artista brasiliense Gustavo Silvamaral em São Paulo e demonstra a destreza na construção pictórica do entremeio entre pintura e o pensamento escultórico.
O título é uma alusão ao sexto álbum da cantora Madonna, Bedtime Stories - inspirado na música "Bedtime Story", escrita por Björk -, lançado em 1994, um ano antes do nascimento de Silvamaral. Essas narrativas existem para serem contadas, e na mostra adentramos nos casos e contos da plasticidade do artista que irrompe no espaço.
Sua linguagem pictórica, independente do suporte utilizado, é a pintura, em que opera com blocos de cor e projeta sobre a tinta a óleo um esmaecimento ocasionado pelas camadas de parafina, despontando para uma construção escultórica em que os pigmentos vão sendo cobertos e descobertos pela opacidade e translucidez do material. É nesse processo que se desencadeia a pintura expandida, entre bidimensional e tridimensional.
Em sua poética, há uma reconfiguração e ressignificação do uso da parafina - elemento derivado do petróleo, que possui diversos usos, sendo o mais comum a fabricação de velas. Notem que a ação da vela se inicia pela reação química da combustão, a cera derrete ao redor do pavio, absorvida pela chama, os vapores reagem com o oxigênio de modo a liberar luz e calor, e alteram sua materialidade inicial para tornar-se outra ao final do processo. A forma como a parafina é acionada na poética de Silvamaral evoca as propriedades termoplásticas do elemento, mas as congela, deixando o branco opaco mesclado aos pigmentos coloridos da pintura, amalgamando copiosas texturas.
A cor é medular em sua projeção plástica, a formação do encontro entre matizes ganha protagonismo em relação ao espaço, as gradações cromáticas se esmaecem, ficando menos nítidas e oleosas ao fundirem pintura em escultura. Os vergalhões de aço, tão usuais em cenários de construção e estruturais, em seus trabalhos são simultaneamente basilares, pois sustentam a parafina, e compositivos ao adicionarem a translucidez do material às nuances cromáticas da pintura, o brilho do aço se dissolve na textura da parafina, se tornando nervuras compositivas, essas que estão presentes também na expografia.
As medidas dos trabalhos são iguais, criando uma coerência visual, um corpo único que se fluidifica em tantas outras partes. As formas projetadas evocam uma geometria simples em sua constituição, retângulos e quadrados que ressoam uns nos outros, essa construção diáfana agiganta todas as camadas, fundindo o desvanecer ao olhar do espectador. O trabalho “Stay positive” demonstra a destreza do artista na modelagem tridimensional ao sobrepor blocos quadrados desenhados de parafina, partindo de um pequeno retângulo composto de tinta para uma construção que remete a espaços quase arquitetônicos.
Atravessado pela herança construtiva de Brasília, forjado na geometria, cresceu na maquete, como ele próprio entende a cidade. A presença geométrica o influenciou e está presente em sua relação com a matéria, não sendo domado pela parafina, mas aprendendo com a matéria. Sua geometria é também espiritual, em que há uma sensibilidade aliada ao formal, bastante evidente nos títulos que são profundamente íntimos, como em "Usando homens para me distrair do meu trabalho", "¼ em Ipanema" e "Sex". São suas narrativas pessoais, de solidão, de partilha de tantos amores e igualmente de dores, da suspensão do tempo que se deriva em uma vivência privada da cama.
A letra da música de Madonna conclama “Let's get unconscious, honey”, quase como um mantra entoado, perpassa e atravessa todos os trabalhos, nos absorvemos nesse véu criado por Silvamaral para mergulharmos em seu microcosmo expandido no espaço.

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Mariane Beline

Gustavo Silvamaral: Bedtime Story

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The bed, as an othered space—a localized utopia—implies notions of identity, knowledge, and the freezing of time. The stories lived between sheets perpetuate non-hegemonic conditions of existence. Bedtime Story is the first solo show by the Brasília-born artist Gustavo Silvamaral in São Paulo, and it reveals his dexterity in constructing a pictorial language that lies between painting and sculptural thinking.

The title alludes to Madonna’s sixth album, Bedtime Stories—inspired by the song “Bedtime Story,” written by Björk—released in 1994, just one year before Silvamaral was born. These narratives are meant to be told, and in the exhibition, we enter the tales and textures of the artist’s plastic universe as it breaks into space.

Regardless of the support used, painting is Silvamaral’s primary language. He works with blocks of color and overlays oil paint with a haziness caused by layers of paraffin, resulting in a sculptural construction where pigments are alternately concealed and revealed by the material’s opacity and translucence. It’s within this process that expanded painting unfolds—between the two- and three-dimensional.

His poetic approach reconfigures and resignifies the use of paraffin—a petroleum byproduct with various uses, most commonly for making candles. Observe that a candle's action begins with the chemical reaction of combustion: the wax melts around the wick, is absorbed by the flame, and the vapors react with oxygen to release light and heat, altering the material's initial state into something new. In Silvamaral’s work, paraffin’s thermoplastic properties are invoked and then frozen, the opaque white blending with the colorful pigments of the painting to form dense textures.

Color is central to his plastic projection—the encounter of hues takes precedence over space. Chromatic gradients fade, becoming less defined and more oily as they blend painting into sculpture. Steel rebar, commonly found in structural and construction settings, serves in his work both as a base that supports the paraffin and as a compositional element: the material’s translucency fuses with the painting’s color variations, and the steel’s shine dissolves into the paraffin’s texture, forming compositional striations that are also present in the exhibition layout.

The works are all the same size, creating visual cohesion—a single body fluidly unfolding into many parts. The projected forms evoke a simple geometry—rectangles and squares echoing each other. This diaphanous construction magnifies all the layers, merging the fading surface with the viewer’s gaze. The piece Stay Positive demonstrates the artist’s skill in three-dimensional modeling by stacking square paraffin blocks, beginning with a small painted rectangle and building into a structure that evokes near-architectural spaces.

Shaped by Brasília’s constructive heritage—born from geometry—he grew up within the model, as he himself sees the city. This geometric presence influences him and informs his relationship with material—not in dominating the paraffin, but in learning from it. His geometry is also spiritual, in which formal precision is coupled with sensitivity. This is clearly evident in the deeply personal titles such as Using Men to Distract Me from My Work, ¼ in Ipanema, and Sex. These are his personal narratives—of solitude, of shared love and pain, of the suspension of time that unfolds in the private experience of the bed.

Madonna’s lyric—“Let’s get unconscious, honey”—becomes almost a chant, weaving through all the works. We are absorbed by the veil Silvamaral creates, plunging us into his microcosm, expanded into space.

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Mariane Beline

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EXPOSICOES

 o que ja passou por aqui

Emerson Freire: Quimera

Emerson Freire, artista bastante inquieto com as linguagens já existentes, embrenha-se por caminhos pouco ordinários para inventar seus próprios meios e materialidades. Ao mesclar elementos advindos da indústria - como fibra de vidro, parafina, sal grosso, espuma expansiva, resina e pintura automotiva -, os ativa e clama outras nuances. Esse enfrentamento parte de um método experimental, retomando uma ação alquimista em busca da transmutação de substâncias básicas em outras mais nobres ou mesmo pelo elixir da imortalidade.
Transmuta materiais a partir da experimentação, em seu ateliê percebe-se como sua prática é investigativa, em que sobrepõe técnicas, combina cores e amplifica texturas que explodem em suas esculturas fabulosas. Há certa sofisticação em tencionar os meandres entre escultura e pintura, o tridimensional ocupa o chão, as paredes, preenche todo o espaço expositivo.
Se nos debruçarmos sobre o conceito de Quimera, derivam-se diferentes significados, na mitologia grega era uma criatura fantástica composta de partes de leão, cabra e serpente. Na biologia, um organismo com células de indivíduos geneticamente distintos - notadamente o método experimentativo de Freire é uma quimera, operando na conjugação e justaposição técnica.
Sua investigação plástica concebe um microcosmo que sustenta um universo próprio, estabelecendo elos entre criaturas naturais e matéricas por meio do tátil, amalgamando-os em combinações invisíveis como uma forma de relacionamento, flutuando entre diversos tratamentos, deixando um rastro de dúvida se os elementos seriam minerais, vegetais, criaturas animalescas ou até mesmo seres mutantes. O microscópico e o macro se confundem, podendo ser uma formação fúngica ou vegetal que consome e se constitui em um mutualismo, uma associação imprescindível entre as peças, ou mesmo uma visão de imagens de satélite de universos ainda a serem descobertos. Esse micro consciente, sincronicamente macro corpóreo, ressignifica a contínua metamorfose material e simbólica que comprova como o tempo é circular e perpétuo.
Ademais, esse mutualismo fica evidente em sua apropriação de partes de caminhões descartados que já chegam com uma história prévia ao serem adquiridos, Freire lhes dá uma sobrevida ao transformá-los em corpos duplos, ao serem isolados de sua função original são corporificados, em um processo de fagocitose entre descarte e arte. O sal grosso aliado à uma massa de parafina adiciona um tratamento outro às peças elaboradas, criando uma zona anômala de vida. Nos trabalhos de parede vemos a moldagem da espuma expansiva, cortada e esculpida em espaço delimitado de uma tela de alumínio em que novamente se retoma o duplicado, sendo colocado em diálogo com outra forma de esculpimento, dessa vez com parafina.
Quimera é uma imersão em uma zona de desvio da realidade, um ensaio acerca da materialidade, em um equilíbrio entre fusão técnica e a força da poética, um território temporário em que o tempo é suspenso e que somos convidados a esquadrinhar.

Mariane Beline

Emerson Freire: Chimera

Emerson Freire, an artist restless with existing languages, ventures down unorthodox paths to invent his own means and materialities. By blending elements derived from industry—such as fiberglass, paraffin, coarse salt, expanding foam, resin, and automotive paint—he activates them and evokes new nuances. This approach stems from an experimental method, echoing an alchemical practice in search of the transmutation of base substances into more noble ones, or even the elixir of immortality.

He transmutes materials through experimentation; in his studio, one perceives an investigative practice where techniques overlap, colors combine, and textures are amplified, bursting forth in his fabulous sculptures. There is a certain sophistication in the way he stretches the boundaries between sculpture and painting—the three-dimensional occupies the floor, the walls, and fills the entire exhibition space.

If we reflect on the concept of "chimera," multiple meanings arise. In Greek mythology, it was a fantastic creature composed of parts of a lion, a goat, and a serpent. In biology, it refers to an organism composed of genetically distinct cells. Clearly, Freire’s experimental method is a chimera, operating through technical conjunction and juxtaposition.

His visual inquiry creates a microcosm that sustains its own universe, establishing links between natural and material creatures through the tactile, amalgamating them into invisible combinations as a form of relationship. His work floats among diverse treatments, leaving us in doubt as to whether the elements are mineral, vegetal, animalistic, or even mutant beings. The microscopic and the macro blur—it could be a fungal or vegetal formation that both consumes and constitutes itself through mutualism, an essential association among parts, or even satellite imagery of undiscovered universes. This micro-conscious, simultaneously macro-corporeal world redefines the ongoing material and symbolic metamorphosis, proving how time is circular and perpetual.

Furthermore, this mutualism is evident in his appropriation of discarded truck parts, which arrive already bearing a previous history. Freire gives them a second life by transforming them into dual bodies—once removed from their original function, they are re-embodied in a process of phagocytosis between waste and art. Coarse salt combined with paraffin adds a new treatment to the crafted pieces, creating an anomalous zone of life. In his wall pieces, we see the molding of expanding foam, cut and sculpted within the defined space of an aluminum frame, once again invoking the concept of the double, now placed in dialogue with another form of sculpting, this time using paraffin.

Chimera is an immersion into a realm that diverges from reality, an essay on materiality balanced between technical fusion and poetic strength—a temporary territory in which time is suspended and we are invited to explore.

Mariane Beline

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